terça-feira, 6 de outubro de 2009

Filme em destaque: BANG BANG



"'Eu vejo Bang-Bang como um filme em branco',dizia Andrea Tonacci no debate que a Mostra do Filme Livre proporcionou para o cineasta discorrer sobre sua obra. Mas essa página em branco não é aquela de Mallarmé, mas uma outra, propícia às injunções de um novo estado do cinema brasileiro e à chegada de uma nova geração à realização cinematográfica. Era o desejo de um grupo novo de realizadores que pegava o cinema num momento já codificado demais, extracodificado em suas significações políticas, em seus questionamentos forma/conteúdo, na exaustão do das formas canônicas e, de certa forma, também das modernas do cinema novo. A página em branco, então, não se dá mais por um sentimento de absoluto diante do inexplorado e da pureza do movimento antes do fazer-se da arte, mas pelo esvaziamento deliberado dos moldes de feitura das obras. Na entrevista que dá à Contracampo, Tonacci fala da necessidade de esvaziar o filme, no sentido de lhes retirar o clichê e tornar todos os comportamentos ambíguos.
Mas parece que são apenas dois exemplos de um programa mais geral, que consistiria em renovar o cinema pela negação de tudo aquilo que o cinema já tinha desgastado. Assim como a passagem de Cara a Cara para Um Anjo Nasceu e de O Bandido da Luz Vermelha para A Mulher de Todos, a guinada de Blá-blá-blá para Bang-Bang nasce de uma porta que esses cineastas fecham em relação a um possível diálogo com o cinema de antes. Não é mais tempo para conciliações. É preciso de alguma forma começar do zero. É preciso esvaziar a página."

Trecho do texto de Ruy Gardnier publicado na Contracampo

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